«Já não há catástrofes naturais: já só há uma catástrofe civilizacional que se propaga em todas as ocasiões. Podemos mostrá-lo a propósito de cada catástrofe dita natural, tremor de terra, inundação ou erupção vulcânica, não falando já das perturbações produzidas na natureza pelas nossas técnicas.»
Diante das catástrofes, «tentemos escapar quer à deploração, quer ao guia do utilizador, quer à imprecação, quer ao fascínio e, sobretudo, à suspensão do pensamento».
(Jean-Luc Nancy)
É já nos próximos dias 18. 19 e 20 que decorrerão os encontros «Pensamento e catástrofes», no Porto. Trata-se de uma organização conjunta do Instituto de Filosofia e do i2ads (Belas-Artes), um acontecimento duplamente motivado pela extrema contemporaneidade e pela nossa extrema carência de pensamento. Trata-se, também, de uma homenagem a Jean-Luc Nancy, filósofo essencial.
Da programação destaca-se o seminário aberto de Frédéric Neyrat, «The spirit of communism. From Hegel to Nancy's existential communism» (dia 19-5, às 11h, na Faculdade de Letras, sala de reuniões) e a conferência de Howard Caygill sobre a Catástrofe ambiental e as suas representações ( dia 19-5, às 17h, na Aula Magna da Faculdade de Belas-Artes)
De realçar ainda o debate sobre pensamento e catástrofes, com Fernanda Bernardo, Pedro de Llano, H. Caygill, Frédéric Neyrat, Jorge Leandro Rosa (no dia 20-5, às 17h30, no Auditório do Museu de Serralves)
Embora façam parte da consciência difusa que temos do nosso tempo e da nossa situação, as catástrofes são vulgarmente tomadas em conta através de gestos de prevenção ou de medo. Afastadas do pensamento, foram quase sempre entendidas como o domínio da sua impossibilidade. Contudo, dá-se hoje uma transformação cultural e filosófica das catástrofes que, paralelamente à metamorfose do mundo, aponta para deslocações decisivas do pensamento.
Ao longo de três dias, autores, filósofos e artistas reúnem-se para, não apenas debaterem as possibilidades de compreendermos as catástrofes, como também – no dizer de Jean-Luc Nancy – enunciarem algo do «pensamento como catástrofe». A filosofia, a música, a literatura, as dança, o cinema e as artes plásticas tocam e são tocados pela diversidade de práticas catastróficas.