Jornadas contra a mineração
no espaço Musas (R. Bonjardim, 998, Porto)
25, 26 e 27 Abril
As populações de várias aldeias do Barroso viram-se subitamente empurradas para a linha da frente da batalha contra a megalomania imperial da UE. A luta destas populações pelo seu modo de vida e contra a catástrofe iminente não pode continuar solitária. A sua luta deverá ser também a nossa. Nas jornadas contra a mineração queremos que todos conheçam de perto o dia-a-dia das populações afectadas pelos projectos em curso, as suas lutas contra uma máquina imparável e a opacidade dos processos políticos e legais que ameaçam pulverizar suas vidas.
A nossa resposta só pode ser a solidariedade e a organização de formas activas de resistência.
Texto completo de convocatória e anúncio das Jornadas Contra a Mineração
Estado de Lítio | Jornadas contra a Mineração
Em Abril de 2024, publicado no Jornal Oficial da União Europeia, o REMPC – Regulamento Europeu das Matérias-Primas Críticas – é um documento decisivo para a afirmação geopolítica da UE como império neocolonial. Pretendendo superar as vulnerabilidades e perturbações das cadeias de valor ocasionadas pela pandemia da COVID-19 e pela guerra da Ucrânia, o REMPC estabelece uma estratégia de fundo para o "aprovisionamento seguro e sustentável” de matérias-primas destinadas à "transição ecológica e digital" e para aplicações de defesa e indústria aeroespacial.
Na prática, isto significa que o extractivismo dos recursos naturais será dirigido para dentro das próprias fronteiras da UE. A extracção de matérias-primas críticas, com o lítio à cabeça, será o novo normal e a coberto deste imperativo serão permitidos todos os abusos. Portugal e o seu interior despovoado e politicamente nulo torna-se, neste contexto, especialmente apetecível para a rapina protagonizada por multinacionais ao abrigo daquilo que o REMPC designa como "projectos estratégicos". É o que já acontece no Barroso com as anunciadas minas de extracção de lítio em Covas de Barroso e Romano.
Em 2018, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura declarou o Barroso como Reserva Agrícola Mundial, denominação que reconhece como a agro-silvo-pastorícia aí praticada contribui para a preservação de valores naturais e de áreas selvagens. O paradoxo é, precisamente, o da apregoada “transição ecológica” obrigar à ruína de paisagens e formas de vida já reconhecidas como tendo alcançado uma harmonia.
A devastação causada por uma mina é colossal e alterará tudo isto. O familiar tornar-se-á estranho e a presença da derrota surgirá todos os dias da paisagem apocalíptica. Em muitos casos, a mudança obrigará os habitantes à mudança de residência, emprego ou à emigração. Os laços sociais destas aldeias serão estilhaçados e a eles juntar-se-á a destruição ambiental. A utilização diária de enormes quantidades de água acarreta o risco iminente da poluição da rede hidrográfica, pondo em perigo a fauna, a flora e as povoações costeiras do Tâmega e do Douro.
As populações de várias aldeias do Barroso viram-se subitamente empurradas para a linha da frente da batalha contra a megalomania imperial da UE. A luta destas populações pelo seu modo de vida e contra a catástrofe iminente não pode continuar solitária. A sua luta deverá ser também a nossa. Nas jornadas contra a mineração queremos que todos conheçam de perto o dia-a-dia das populações afectadas pelos projectos em curso, as suas lutas contra uma máquina imparável e a opacidade dos processos políticos e legais que ameaçam pulverizar suas vidas. Contaremos também com especialistas para complementar estas perspectivas. Esperamos assim que este encontro possa contribuir para expandir uma rede de apoio aos afectados e preparar-nos para o que vem.
Acima de tudo, queremos que estas jornadas possam ser uma oportunidade para que todos nos apercebamos do momento crítico que vivemos. O reposicionamento geopolítico da UE em direcção ao rearmamento será cada vez mais exacerbado e uma ocasião para todos os abusos. A nossa resposta só pode ser a solidariedade e a organização de formas activas de resistência.